João XXIII, agindo nas tendências, dessacralizou tradições vaticanas elevadas do Papado

A sudeste de Roma é o local onde, segundo se conta, São Pedro encontrou Nosso Senhor quando tentava fugir da perseguição aos cristãos em Roma. O apóstolo teria O perguntado: "Senhor, para onde vais?" (em latim: Domine, quo vadis?) e Jesus respondeu: "Estou indo para Roma para ser crucificado de novo" (em latim: Eo Romam iterum crucifigi).

Num tempo quando surgiam músicas que conduziam à intemperança, quando diversões pouco católicas ganhavam força e massivamente induziam o ocidente ao gosto do novo e do brilhante sem amor à virtude, o Papa, permanecendo no seu Trono Petrino trabalhando, contrastava pela fé que representava, de onde, por tal influência, segurava os maus ímpetos das nações.

Porém, reinante João XXIII, isso passou a mudar: houve muitas saídas do Vaticano. Findado o pontificado de Paulo VI, após uma curtíssima passagem de João Paulo I, o pontificado de João Paulo II levou isso ao patamar internacional. Muitos atribuem o símbolo da lista da profecia dos Papas, “De labore solis”, à quantidade enorme de viagens internacionais do Papa Polonês: por isso, seu trabalho foi como o sol, que rodou a terra.

De fato, com João Paulo II a frase “todos os caminhos levam à Roma” parecia se tornar “todos os caminhos partem de Roma”. Mas o Papa Roncalli tinha dado o ímpeto inicial.

- Precursor da agenda agitada de viagens dos Papas posteriores

Na reportagem da Aleteia: “São João Extramuros

São João XXIII foi o primeiro Papa do século XX que, em diversas ocasiões e sem alarde algum, saiu dos muros do Vaticano para visitar pessoas necessitadas. Os romanos, com seu típico senso de humor, o chamavam de São João Extramuros, em referência à famosa basílica de São Paulo Extramuros (ou São Paulo Fora dos Muros).” [1].

Agenda agitada e dessacralização do Papado em história que beira a molecagem

Relata o seu decano de antecâmara, Guido Gusso:

“Após oito dias caminhando pelos Jardins vaticanos, disse-me: ‘Sempre damos a mesma volta!’. Leva-me à fonte do Gianicolo, a Villa Borghese”, contou o “mordomo” do papa João. “Eram lugares que ele conhecia porque estudou em Roma. Eu lhe respondia: ‘Mas, Santidade, não podemos’. E ele: ‘Como não se pode? Peguemos o carro e vamos’. Os guardas ficavam loucos porque não sabiam onde estava o Papa” (...)

Quando atravessamos Marino, o caminho era estreito e estava cheio de gente, era tardezinha, a multidão o reconheceu e começou a gritar: ‘Viva o Papa’; ‘Ah, nosso João!’. Não podíamos passar... por fim, chegamos ao Palácio Apostólico, mas da entrada central até o final da avenida de Castel Gandolfo, os guardas estavam como loucos, e também a polícia italiana... precisavam ver a cara dos guardas suíços!”.

Alguns dias após a escapada, chegou uma carta da polícia italiana. “A polícia me denunciou. O Papa me mandou chamar, também estava dom Dell’Acqua (então suplente na Secretaria de Estado), para me ler a carta. E, em seguida, colocou-se a rir, estava contente porque havíamos conseguido sair” [2]

Desagrado com a imobilidade Papal

Aleteia: “10 – Para encerrar

Virou costume que São João XXIII encerrasse os seus encontros com os peregrinos dizendo esta pérola sobre o fato de passar quase todo o tempo dentro do Vaticano:

“Voltem, voltem, pois, infelizmente, estamos sempre aqui” [3]

Com suas frequentes saídas do Vaticano, embora continuasse a ser o chefe de Estado do mesmo, João XXIII inaugurava o que veio a ser comum com João Paulo II: as viagens contínuas ao redor do mundo (o que intrinsecamente não são más, obviamente).

Então, não é errado dizer que João XXIII pavimentou o caminho para Bento XVI décadas depois renunciar sob alegação de incapacidade física, como se do Papa fosse exigido saúde física para viajar, etc.

- Conclusão

Se o Papa Wojtyła, seguindo seu predecessor mais próximo João, não tivesse passado a viajar tanto pelo mundo numa tentativa de grudar na figura Papal o dever de viajar incessantemente, muitos olhariam com estranheza a necessidade de renúncia Papal, como a que o Papa Francisco disse que fará inúmeras vezes (Em 2022: “Eu não acredito que vou poder continuar fazendo viagens com o mesmo ritmo de antes.” [4]), seguindo ao seu antecessor Bento XVI, que sucedeu João Paulo II
.

Na profecia dos Papas, atribuída à S. Malaquias, João XXIII é “pastor et nauta”, pastor e navegante, algo aparentemente contraditório sem levar em conta seu pontificado desejoso de navegar constantemente para fora da sede da barca de S. Pedro.

João Paulo II foi o "labore solis", denotando uma viagem bem mais rápida do que a do "nauta". Já Bento XVI foi o antepenúltimo Papa naquela lista: como não imaginar que o último, chamado de “Petrus Romanus”, não terá o significado de um Papa que, ao contrário de João XXIII e sucessores de mesma diretriz, fique somente em Roma, da qual o Príncipe dos Apóstolos é também bispo? Seria, então, um verdadeiro amante da Sé de S. Pedro, sem constantes saídas da Roma Eterna. Isso não impede, é claro, que o mesmo se faça presente virtualmente por meios tecnológicos em muitos países, como provavelmente há tempos já ocorre para reuniões emergenciais e privadas com os Núncios (espécie de embaixadores do Vaticano nos países e dioceses do globo).

Porém, como dito no volume I, parte 1 (3ª edição, Cap. V, “Critérios desta seleção e da supressão de outras profecias, como a dos Papas, Garabandal e Medjugorje, etc.
[5]), a profecia só pode valer, entre outros fatores, se se considera uma sequência de Papas, e não o fim do mundo, além de ter que ter o símbolo do antepenúltimo Papa da lista interpretado como um conjunto de sucessores da mesma linha, como o atual Francisco. 



Soframos juntos a crise na Igreja com um Salmo Penitencial (Salmo 6)

"Senhor, não me arguas no teu furor, nem me castigues na tua ira. Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou enfermo; sara-me, Senhor, porque meus ossos estremeceram. E a minha alma turbou-se em extremo, mas Tu, Senhor, até quando? Volta-te, Senhor, e livra a minha alma, e salva-me pela tua misericórdia.

Porque na morte não há quem se lembre de Ti, e na habitação dos mortos, quem Te louvará? Estou esgotado à força de tanto gemer, lavarei meu leito com lágrimas todas as noites, regarei com elas o lugar do meu descanso. 

Os meus olhos se turbaram por causa do furor, envelheci no meio de todos os meus inimigos. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade, porque o Senhor ouviu a voz do meu pranto.

O Senhor ouviu a minha súplica, o Senhor ouviu a minha oração. Sejam confundidos, e em extremo conturbados todos os meus inimigos, retirem-se e sejam num momento cobertos de vergonha".

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[1] Reportagem local - publicado em 11/10/17. Link: https://pt.aleteia.org/2017/10/11/10-anedotas-envolvendo-o-papa-mais-engracado-de-todos-os-tempos/
[2] Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 01-04-2014. A tradução é do Cepat. Link: http://www.ihu.unisinos.br/170-noticias/noticias-2014/529847-quando-joao-xxiii-escapava-do-vaticano
[3] Reportagem local - publicado em 11/10/17. Link: https://pt.aleteia.org/2017/10/11/10-anedotas-envolvendo-o-papa-mais-engracado-de-todos-os-tempos/
[4] “Papa Francisco diz que possibilidade de renúncia ‘não é uma catástrofe’”, por Paula Felix 30 jul 2022. Leia mais em: https://veja.abril.com.br/mundo/papa-francisco-diz-que-possibilidade-de-renuncia-nao-e-uma-catastrofe/.
[5] "O Príncipe dos Cruzados" Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. V. Link: http://www.oprincipedoscruzados.com.br/2014/12/sobre-profecias-como-de-smalaquias.html