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No dia 16 de Julho de 2021, o Vigário de Cristo Francisco decidiu, após durável ação da máquina de rumores do Vaticano (que mede a sensibilidade da opinião pública pontual a ser afetada), corroborar a insatisfação gerada pelos boatos de um documento anti-tradição, e emitiu um Motu Proprio que, por fim, passa para o papel o que há décadas existia na prática: a perseguição à missa tridentina.
Embora haja desdém e desvalorização de todo rito tradicional em comunhão com o Santo Padre, esses se materializavam sempre silenciosamente por eficazes manobras psicológicas e doutrinárias locais, as quais visavam minar aos poucos a quantidade de celebrações que pediam eficazmente a clemência divina, categorizando o aspecto de sacrifício propiciatório existente em toda liturgia tradicional.
Aliás, parece ser a razão pela qual o rito novo de Paulo VI absorve vários elementos orientais também: como meio-termo entre oriente e ocidente, a nova missa quer atrair ambas as mentalidades, implantando a metafísica igualitária da Revolução na liturgia católica: a igualdade global na celebração de um rito que não pede bem o perdão de Deus.
Traçada a tática de cercear o Rito de S. Pio V em comunhão com Roma
Certos tópicos do Motu Proprio “Traditionis Custodes” deixam clara a intenção de acabar com a missa tridentina e, consequentemente, afastar todo fiel que a ela se sinta apegado [1]:
Rito de Paulo VI é a única expressão da lex orandi do Rito Romano (segundo os jesuítas, “um passo para enfim eliminar o uso do Rito Tridentino” [2]): “Art. 1. Os livros litúrgicos promulgados pelos santos Pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, são a única expressão da lex orandi do Rito Romano.”
"Apartheid da tradição", ou a visibilidade e crescimento do rito de S. Pio V distanciados dos outros fiéis que não o conhecem (há anos em prática): “Art. 3. O bispo, nas dioceses em que até agora haja a presença de um ou mais grupos que celebram segundo o Missal anterior à reforma de 1970:
§2. indique um ou mais lugares onde os fiéis aderentes a estes grupos se possam reunir para a celebração eucarística (mas não nas igrejas paroquiais e sem erigir novas paróquias pessoais);
"Controle de natalidade" de novos grupos ligados àquele rito: “Art. 3. §6. Terá o cuidado de não autorizar a constituição de novos grupos”.
Menos missas tridentinas mediante mais provavelmente um sacerdote (único?): “Art. 3. §4. nomeie um sacerdote que, como delegado do bispo, seja encarregado das celebrações e do cuidado pastoral de tais grupos de fiéis (...)”
Carta branca para exterminar toda paróquia canonicamente erigida para o Rito de S. Pio V: “Art. 3. §5. Proceda, nas paróquias pessoais erigidas canonicamente em benefício destes fiéis, a uma conveniente avaliação da sua efetiva utilidade para o crescimento espiritual e avalie se são ou não de manter.”
Vastos caminhos burocráticos e canônicos para que um sacerdote passe a celebrar o Rito de S. Pio V após o Motu Proprio (“chá de cadeira”): “Art. 4. Os presbíteros ordenados após a publicação do presente Motu proprio, que pretendam celebrar com o Missale Romanum de 1962, devem dirigir um requerimento formal ao Bispo diocesano o qual, antes de conceder a licença, consultará a Sé Apostólica.
Art. 5. Os presbíteros que já celebrem segundo o Missale Romanum de 1962, requererão ao Bispo Diocesano licença para continuar a valer-se dessa faculdade”.
Revela-se o paradoxo do ecumenismo pós-conciliar: só se persegue quem está em união com a hierarquia legítima, fora da qual não há salvação
A carta que acompanhava o documento pelo menos adverte que, realmente, o movimento de Dom Lefebvre foi cismático [3].
E, ironicamente, o Papa desagrada somente aqueles em comunhão com Roma, como se fossem estranhos no ninho, ou seja, empurrando-os ao cisma.
Afinal, diz o Superior geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X após a publicação do “Traditionis custodes”: “Essas medidas, tão claras e nítidas, não tocam diretamente a Fraternidade São Pio X” [4].
Quando D. Lefebvre foi excomungado por João Paulo II, um Cardeal afirmou que aquele bispo, dali em diante, precisava ser bem-tratado, pois estava fora da Igreja. O bem informado contra-revolucionário leigo Plinio Corrêa de Oliveira, que nunca apoiou aquele gesto de rompimento com a autoridade então detentora da escolha da sucessão apostólica, sobre isso soltou: “é o paradoxo do ecumenismo”. Ei-lo novamente.
Já a razão para limitar a liturgia antiga é uma instrumentalização que ocasiona o repúdio ao Concílio Vaticano II e à reforma litúrgica [5], disse o Papa que elogiou artigo do Cardeal Koch dizendo que no Concílio Vaticano II Martinho Lutero teria "encontrado o seu Concílio"”[6]. Afinal, "duvidar do Concílio é duvidar das próprias intenções dos Padres (...) e, definitivamente, é duvidar do próprio Espírito Santo que guia a Igreja" [7], disse o Vigário de Cristo que confessou já ter duvidado de Nosso Senhor Jesus Cristo, repreendendo-O, e nesse contexto exortou que o cristão, "cuja fé não tenha entrado em crise, falta-lhe algo" [8].
Atitudes de gente de posição lefebvrista ante o Motu Proprio mostra quais são suas consequências: aumento da adesão ao cisma
Além do então superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, já citado, outros sacerdotes de posição lefebvrista também alegaram que suas capelas, as quais não incomodam o mesmo progressismo revolucionário, encheriam após o Motu Proprio.
Tais capelas estão integralmente no mapa da confusão que a Revolução quer semear, pois é indesejável ao progressismo afirmar que a religião Católica Apostólica Romana é a única verdadeira, bem como identificar Seus verdadeiros pastores. Afinal, nada mais anti-ecumênico que o instituto da excomunhão e da advertência pastoral sobre a verdadeira condição canônica de sacerdotes que exercem rotineiro ministério nas dioceses ligadas ao Papa, dão “crisma sob condição”, etc.
Respostas do Vaticano para algumas perguntas sobre o Motu Proprio acelera o cerco aos meios tradicionais ligados à missa tridentina
Ao final do ano de 2021, a Congregação para o Culto Divino, do Vaticano, respondeu certas perguntas de um bispo acerca da aplicação do Motu Proprio sufocando ainda mais qualquer vestígio da Tradição. E inclusive cita o Pontífice Francisco, em agosto 2017, dizendo que a “reforma litúrgica é irreversível” [9].
As aspas são do site da CNBB [10]:
Interditados os sacramentos do batismo, penitência, matrimônio, unção dos enfermos e sacramentais, como as exéquias, segundo o Rito de S. Pio V fora dos locais próprios: “a autoridade da Santa Sé, de fato, considera que, para avançar na direção indicada por Francisco, a possibilidade de utilizar livros litúrgicos revogados não deve ser concedida e que os fiéis devem ser acompanhados “para uma compreensão plena do valor da forma ritual” resultante da reforma litúrgica.”
Sacerdote nenhum pode ser ordenado no Rito de S. Pio V (crisma também não pode): “O “responsum” especifica que só será possível utilizar o Ritual anterior em “paróquias pessoais canonicamente erigidas”, ou seja, exclusivamente em paróquias já instituídas pelo bispo e dedicadas aos fiéis ligados ao rito antigo. Nem mesmo nessas paróquias, entretanto, será permitido utilizar o Pontificale para a crisma e ordenações”. Adendo de 2022: posteriormente foi conferida a faculdade de ministrar certos ritos para algumas comunidades ligadas ao antigo rito, mas menos afinadas com o dito exclusivismo do rito tradicional.
Mais burocracia canônica para que um sacerdote passe a celebrar o Rito de S. Pio V após o Motu Proprio (mais “chá de cadeira”): “É especificado que no caso de ausência ou impossibilidade do sacerdote autorizado, a pessoa que o substitui também deve ter autorização formal para usar o antigo Missal. A autorização também é necessária para diáconos e ministros instituídos que participam da celebração da Missa pré-conciliar.”
Perseguições que dali surgiam confirmam o que dizíamos sobre Summorum Pontificum e os movimentos oriundos do Ecclesia Dei: falsas alternativas
Ao sepultar o “Summorum Pontificum”, do qual há anos afirmamos ser um documento no mínimo insatisfatório aos tradicionalistas, o “Traditiones Custodes” parece dizer que a estratégia anterior de Bento XVI não vingou (fazer com que todos aqueles voltassem ao rito novo), e a tática atual agora é explicitamente limitar, e mais adiante impedir, a celebração da missa no rito antigo.
Dado o paradoxo do ecumenismo, é previsível que haja tratamento persecutório a todo sacerdote exclusivo do rito tridentino em comunhão com o Papa.
Como diz o ditado: “piensa mal, y acertarás”. Assim, será que a Revolução Progressista quer que o povo tradicional, confundido pelos mesmos ditos “tradicionalistas” e pelas concessões aos cismas dos últimos Papas, vá diretamente buscar sacramentos em cismas diversos (pecado de communicatio in sacris ativa, noção desde o ecumenismo pós-conciliar pouco pregada)?
Parece que a missa tridentina atrai maldição.
Ou melhor, parece que a missa de sacerdote legitimamente integrado na hierarquia atrai desgraça. “Piensa mal, y acertarás”: num mundo onde satanás reina nos corações, o errado é tomado por certo.
De fato, muitas perseguições de ordinários locais aos sacerdotes de rito tradicional pipocaram no ocidente após o documento, mas relatá-las foge do escopo deste artigo. Basta dizer que em muitas dioceses parecia já haver a intenção de seguir todas as restrições do Motu Proprio, ainda que elas não estivessem escritas.
Modus operandi da Revolução progressista com os tradicionalistas unidos à Roma: empurrar ao cisma, minando o valor espiritual da missa que, fora da Igreja, celebrariam
Ciente da infeliz admiração de padres de grupos da extinta comissão Ecclesia Dei pelo gesto cismático de D. Lefebvre, a Revolução quer abocanhar, numa dentada só, os padres e fiéis ligados à Roma exclusivos do rito antigo.
Encurralando-os e perseguindo-os, o maligno pretende cansá-los até o ponto de que desistam e, se acostumados com o comodismo, talvez queiram chamar um bispo e começar sua hierarquia, ou talvez desejem se juntar a alguma já criada, retirando suas liturgias da lista daquelas agradáveis a Deus.
Tal fato já se deu com religiosos ao redor do globo: houve quem enviasse carta com justificativas para a sua ida a algum cisma do momento [11], como se essa não fosse a verdadeira intenção da serpente antiga: reduzir ao máximo o número de fiéis ligados ao Papa, isto é, os fiéis católicos.
O cerco em torno dos padres tradicionalistas ao redor do globo parece ter uma só meta: fazer com que saiam da Igreja Católica Apostólica Romana. Se for isso, repara-se na falta de caridade por parte dos que alegam haver visível falta de vínculo de caridade que une a Santa Igreja nas comunidades da missa de S. Pio V.
Solução: celebrar missa privada abundantemente, erigir capelas privadas, e clamar aos Céus para que Deus Se lembre da glória de Sua Igreja e intervenha
Para que este trabalho não seja acusado de só apontar tragédias, apresenta-se uma solução ao sacerdote que quer ser exclusivo dos ritos tradicionais sem aderir a algum cisma.
Antes, não achar que tudo se resume à missa, posição errada de muitos tradicionalistas, como se não existisse batalha no campo temporal e político. Ideologias políticas afins com a Revolução são avessas a toda existência de clero e doutrina católica, quanto mais de missa! Ademais, a má influência que uma cultura imoral (via propaganda dominante, costumes, trajes, festas, arquitetura, decoração, modos de falar e gesticular, etc) exerce na esfera temporal geralmente causa uma força contrária à graça gerada pelas mesmas missas, estagnando a graça pairando na região.
Outras dicas:
1 – Procurar pessoalmente bispos que queiram verdadeiramente salvar almas e, portanto, sejam favoráveis a um ministério tradicional, pois um sacerdote precisa estar vinculado a uma diocese ou bispo da legítima hierarquia, ainda que seja enviado por missionário.
2 – Arregimentar almas caridosas que possam construir capelas privadas para receber os fiéis ligados ao rito tridentino.
3 – Celebrar missa tradicional privada abundantemente a fim de aplacar a cólera de Deus e atrair graças para os locais onde são celebradas (apesar de ir contra o Motu Proprio, justifica-se pelo fato de que uma das funções sacerdotais é alimentar espiritualmente os fiéis), sem se auto-conferir a autorização para celebrar só onde não se está legitimamente alocado, abandonando, na prática, a legítima hierarquia.
4 – Pedir o perdão divino, refletir sobre sua vida, e buscar com coração sincero as virtudes, clamando aos Céus para que Deus Se lembre da glória de Sua Igreja e intervenha logo por meio de Sua Mãe Santíssima, sem a qual nada se obterá.
Uma outra opção é se afastar do convívio humano, vivendo como anacoreta e se focar no ponto 4 tão somente, ponto que pode ser seguido por qualquer um em qualquer estado de vida, exceto o casado e outros com deveres de estado mais importantes para o próximo e para a Igreja.
Salmo em reparação (Salmo 6)
"Senhor,
não me arguas no teu furor, nem me castigues na tua ira. Tem
misericórdia de mim, Senhor, porque sou enfermo; sara-me, Senhor, porque
meus ossos estremeceram. E
a minha alma turbou-se em extremo, mas Tu, Senhor, até quando?
Volta-te, Senhor, e livra a minha alma, e salva-me pela tua
misericórdia.
Porque
na morte não há quem se lembre de Ti, e na habitação dos mortos,
quem Te louvará? Estou esgotado à força de tanto gemer, lavarei meu
leito com lágrimas todas as noites, regarei com elas o lugar do meu
descanso.
Os
meus olhos se turbaram por causa do furor, envelheci no meio de
todos os meus inimigos. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a
iniquidade, porque o Senhor ouviu a voz do meu pranto.
O
Senhor ouviu a minha súplica, o Senhor ouviu a minha oração. Sejam
confundidos, e em extremo conturbados todos os meus inimigos,
retirem-se e sejam num momento cobertos de vergonha".
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[1] Visto no dia 30/12/2021. Conforme tradução disponibilizada pela Conferência Episcopal Portuguesa: https://www.conferenciaepiscopal.pt/v1/wp-content/uploads/PapaFrancisco_TraditionisCustodes_Texto.pdf
[2] Visto no dia 30/12/2021. Link: https://www.ihu.unisinos.br/611211-francisco-anuncia-o-requiem-para-a-missa-em-latim
[3] Em espanhol, com grifo nosso: “La facultad, concedida por un indulto de la Congregación para el Culto Divino en 1984 y confirmada por San Juan Pablo II en el Motu proprio Ecclesia Dei de 1988, estaba motivada sobre todo por el deseo de favorecer la recomposición del cisma con el movimiento guiado por Mons. Lefebvre.” Link: https://www.vatican.va/content/francesco/es/letters/2021/documents/20210716-lettera-vescovi-liturgia.html
[4] Visto no dia 30/12/2021. https://fsspx.org/pt/publications/letters/carta-do-padre-pagliarani-apos-publicacao-do-motu-proprio-traditionis-custodes
[5] Em espanhol, com grifo nosso: “Pero también me entristece el uso instrumental del Missale Romanum de 1962, que se caracteriza cada vez más por un rechazo creciente no sólo de la reforma litúrgica, sino del Concilio Vaticano II, con la afirmación infundada e insostenible de que ha traicionado la Tradición y la "verdadera Iglesia"” Link: https://www.vatican.va/content/francesco/es/letters/2021/documents/20210716-lettera-vescovi-liturgia.html
[6] Papa Francisco aplaudiu a frase "Lutero teria encontrado o seu Concílio no Concílio Vaticano II", escrita por um Cardeal. http://www.oprincipedoscruzados.com.br/2017/01/papa-francisco-aplaude-frase-lutero.html
[7] Tradução livre nossa do espanhol: "Dudar del Concilio es dudar de las propias intenciones de los Padres, que ejercieron solemnemente su potestad colegial cum Petro et sub Petro en el Concilio Ecuménico y, en definitiva, dudar del propio Espíritu Santo que guía a la Iglesia.". Visto no dia 30/12/2021. Link: https://www.vatican.va/content/francesco/es/letters/2021/documents/20210716-lettera-vescovi-liturgia.html#_ftnref14
[8] Papa Francisco admitiu que, como Papa, já duvidou da fé e repreendeu Nosso Senhor Jesus Cristo. Link: http://www.oprincipedoscruzados.com.br/2016/06/papa-francisco-admite-que-como-papa-ja.html
[9] Responsa ad dubia sobre algunas disposiciones de la Carta Apostólica en forma de «Motu Proprio» Traditionis custodes (4 de diciembre de 2021). Link: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccdds/documents/rc_con_ccdds_doc_20211204_responsa-ad-dubia-tradizionis-custodes_sp.html
[10] Visto no dia 30/12/2021. Link: https://www.cnbb.org.br/a-santa-se-responde-as-onze-duvidas-mais-frequentes-dos-bispos-sobre-a-celebracao-da-missa-antiga/
[11] Um exemplo foi o Fr. Wojciech Gołaski O.P. Visto no dia 30/12/2021: https://rorate-caeli.blogspot.com/2021/11/open-letter-by-dominican-theologian-fr.html